Os sois e os arco-íris

21/06/2018

Fico impressionada como a beleza do arco-íris encanta e derrete até os corações mais endurecidos. As crianças o pintam sempre, inúmeras lendas falam sobre o mistério e beleza desse fenômeno físico. Quem nunca sonhou em encontrar um pote de ouro no final do arco-íris?

E não é à toa que chamamos de bebês arco-íris um bebê que vem depois de uma perda gestacional. Esses bebês trazem as cores, a esperança de que a tempestade se foi e que um novo sol vai nos aquecer.

E hoje eu acordei com esse lindo texto da nossa colaboradora, Anelise Dias de Paula (uma fisioterapeuta fantástica) e com o desejo de que possamos receber os arco- íris que a vida nos oferece. E que Francisco, o arco-íris da Anelise, tenha sempre esse sorriso e olhar quente que aquece e nos lembra das cores e felicidades a vida...

"Essa foto tem a representação do passado e o presente.
Meu passado, ali tatuado em meu tornozelo, as asas do meu anjo Samuel.
E no ventre estava meu arco-íris, o Francisco.
Me chamo Anelise, tenho 33 anos e casada a 7 anos com o Luiz.
A nossa história ganhou uma feliz forma no dia 02/07/2015, onde recebemos o nosso primeiro positivo. A materialização do nosso amor crescia em meu ventre.
As recordações que tenho das semanas que passamos juntos não poderiam ser as mais felizes. São elas que me acalentam ainda hoje, me fortalecem e tenho a certeza que somos muito especiais, pois fomos escolhidos para gerar um anjo.
Em contrapartida, não consigo esquecer daqueles dias de tempestade, onde em uma consulta pré-natal já não havia batimento cardíaco do nosso filho, a correria para realizar um ultra-som que confirmou a noticia, o cuidado da minha obstetra, a acolhida de quem nos amam, a dor emocional que também era física durante a madrugada e ida para o hospital bem cedo para iniciar a indução do parto.
Não tem como não citar a imensa dor de entrar em uma maternidade para dar à luz ao meu filho já sem vida. Sentíamos uma pequena ilha de tristeza em um mar de alegria.
O que amenizou o sofrimento se traduz em uma palavra: HUMANIZAÇÃO! A do hospital em me deixar em um quarto mais distante, a escolha da sala do bloco, a presença integral da minha médica, o carinho e solidariedade de todos da equipe do Hospital Santa Fé.
A indução do parto foi uma agressividade no meu corpo e na minha alma. A separação inesperada na vigésima semana gestacional foi dilacerante, colocando em xeque a minha fé e os meus sonhos.
Assim precisei iniciar um processo de reconstrução,que ocorreu após 3 dias da nossa separação. Os queridos Fabricio e Rafaella (Pais do anjo Miguel e responsáveis pelo documentário Segundo Sol) indicaram para nós a psicóloga Renata Duailibi. Assim, eu e o Luiz iniciamos juntos a nossa reconstrução.
Não foi fácil o processo, tivemos que mexer na ferida, continuei a contagem das semanas que faltava para terminar a minha gestação, escutei muitas palavras duras de conhecidos e estranhos, passei pelas fases do luto até chegar a data provável do parto.
O nosso tão esperado 29 de fevereiro de 2016 chegou, precisava fazer nascer, fechamos nossas agendas, ficamos o dia todo juntos, fomos a terapia e escolhemos fazer uma homenagem ao nosso filho (tatuamos juntos, eu a asa de anjo e o Luiz uma pena) e assim fechamos o nosso ciclo.
Após esse período queria muito uma explicação. Fui procurar todos os especialistas que poderiam responder sobre a minha perda, mas nada alterado. Eu precisava esgotar todas as possibilidades para sentir mais segura, assim pensar em um novo começo.
Senti uma necessidade gigante de mudanças, queria estar inserida em um acompanhamento novo e com perspectivas diferentes. Fui encaminhada ao Núcleo Bem Nascer, pois gostaria de continuar a sentir essa acolhida, atenção e que fosse inserida a uma equipe que compreendesse a minha história. A Renata me indicou o Dr Renato Janone, onde me admitiu antes de engravidar, começamos a preparação a essa nova fase.
Dia 02 de junho de 2017, quase dois anos depois, recebemos o nosso novo positivo. Assim, com pequenos passos, muito medo, muita terapia, contando os dias, comemorando cada fase, com o carinho e a paciência chegamos aqui. Construindo uma nova história, um arco-íris após a tempestade e sem esquecer do caminho percorrido até aqui.
Após a perda do nosso Samuel, fortalecemos como casal, aprendemos com a dor e reaprendemos a sonhar.
Hoje, após 4 meses do nascimento do Francisco, descobri que o amor não é divido, mas sim multiplicado; que o Samuel não foi substituído, mas que vive em nossos corações e que não formamos uma família de 3, mas de 4 pessoas eternamente."