Dor e Sofrimento

24/09/2017

Essas duas palavras me "seguiram" durante a semana... Elas são tão intensas que as vezes nos perdemos nelas...

Culturalmente, infelizmente, acabamos por achar que elas são sinônimos... mas não são, não deveriam ser...

Todos já sentimentos dor. Dor de cabeça, dor de dente, dor de ouvido (nossa tive muitaaaa dor de ouvido quando criança), dor de amor (o que é isso?kkkk), dor de barriga, dor nas costas e a tão temida... DOR DO PARTO!!!

"Carol... o que é a dor?", você pode me perguntar...

Eu vou te falar que tive que pesquisar... porque EU... Carolina (como minha grande e querida amiga e irmã, Maíra, me chama) não sei o que é dor... eu sempre a senti... e nós arianos... sentimos muito mais que racionalizamos (felizmente ou infelizmente)

O dicionário me disse que dor é:

substantivo feminino

  1. 1.med sensação penosa, desagradável, produzida pela excitação de terminações nervosas sensíveis a esses estímulos, e classificada de acordo com o seu lugar, tipo, intensidade, periodicidade, difusão e caráter."d. de cabeça"
  2. 2.mágoa originada por desgostos do espírito ou do coração; sentimento causado por decepção, desgraça, sofrimento, morte de um ente querido etc."a d. de ver por terra os seus sonhos"

Primeira coisa ruim ... tem que ser uma substantivo feminino? AFFFF

Mas meu grande ponto nessa história toda é que a dor não precisa ser PENOSA, gente... ela não é sofrimento... 

A dor pode ser intensa, pode ser insuportável... mas ela não precisa ser uma pena, um sofrimento, principalmente a dor do parto!

Antropologicamente falando, os ritos de passagem, são tidos como dolorosos, em algumas sociedades a menina quando entra na puberdade é separada da família por alguns dias e deixada sozinha em um cômodo escuro. Em algumas religiões os médiuns tem seus cabelos raspados, separados dos demais por dias, mas nenhum dos dois é visto como "sofrido", eles são, para as pessoas destas culturas, vistos como necessários, como o próprio nome diz, "ritos de passagem".

E é assim que eu vejo a dor do parto, como um rito de passagem... A mulher está deixando de ser "menina", de ser filha, de ser "livre" e genteeee.... ISSO DÓI MUIIITTTTOOOO. 

Além da dor não física existe a dor fisiológica também... O corpo vai se abrindo, os ossos precisam se abrir, os órgãos vão se reorganizando, o útero (um músculo) se contrai para nos trazer o bebê... CLARO QUE VAI DOER GENTE!!!!  Mas a dor não precisa ser, como no dicionário, PENOSA...

Vamos fazer um paralelo (bem do fantástico mundo de Carolina)...

Lembra lá de quando você era jovenzinha/o, e teve aquela pessoa que partiu seu coração? Quantos dias você chorou? Quantas vezes ficou bêbada/o? quantas horas se trancou no quarto achando que o mundo tinha acabado, que nunca mais ia amar ninguém, e que sua vida tinha sido arruinada? (Vixi... melhor eu nem contar)... Mas me conta... um tempo depois ... quando você nem esperava... o amor veio novamente, não veio? 

Assim é a dor do parto... mas a gente não precisa, necessariamente,  se embebedar ... nem se trancar no quarto, muito menos achar que nunca vai passar... ela passa... ela é dor... não precisa ser SOFRIMENTO nem muito menos tortura.

Eu não tive um trabalho de parto natural, meu parto foi medicamentosamente induzido (o que significa que a dor física que eu senti é muito maior que o que uma mulher que entra em trabalho de parto naturalmente sente) , minha bolsa rompeu e eu tive que induzir meu parto (depois de 24 horas de bolsa rota, um dia eu conto!)... eu ficava esperando os tais "intervalos entre as contrações", que segundo minha mãe, seriam "divinos"... mas eles não vieram... a minha dor era constante... como se fosse uma contração única de 12 horas! Eu pedi analgesia (tomei meu porre) pela dor física e principalmente...

Porque O MEU ritual de passagem doía mais na alma do que no corpo... porque EU transformei a minha dor do parto em sofrimento... 

Depois de muita terapia e muita dor pós parto, eu percebi que o que doía era o medo, um futuro desconhecido, a responsabilidade, os meus sofrimentos pessoais que eu levei para o parto e não o parto em si...

Não era uma dor que a a analgesia faria cessar (e não o fez)... não era dor... era sofrimento...

Mas VOCÊ... não precisa ser assim... você pode sentir DOR... pode gritar (deve, se quiser), pode morder, pode beijar, você pode tudo!... só não precisa sofrer...

Fisiologicamente, nosso limiar da dor quase duplica durante o trabalho de parto... e a dor do parto é esquecida gente! Isso mesmo... depois que passa que a mulher não se lembra... 

Por isso eu digo, aceite sua dor do parto (e todas as outras dores), deixe ela vir... converse com ela... e deixe ela ir. Ela não é vilã... pelo contrário... ela vai te trazer algo com que você tem sonhado há pelo menos 9 meses... Ela é um bom preságio de que seu/sua pequenino/a está chegando e por isso ela não poderia ser amiga, companheira melhor...

Se doer muito peça ajuda! Uma massagem da doula, um floral, um carinho do seu/sua acompanhante, um banho demorado, um chocolate, suco, pipoca! O que for aquecer seu coração e te lembrar de que o amor sempre chega... e essa dor foi "criada" para anunciar a chegada deste grande amor!

Bom dia para vocês... espero que você faça as pazes com as suas dores antigas e diga para essa aí que está por vir que ela é sempre bem vinda porque a primavera só chega depois dos dias frios do inverno... 

Beijos e hoje tem mais post!